Sentiu a areia
debaixo dos pés, a ranger sob a pele fina e gelada. A água salgada
batia sem dó contra as suas pernas, dormentes. Não sentia nada, não
sentia o frio cortante no rosto, não sentia os pingos que caiam sob
os braços nus como pequenas pedras de gelo. Apenas aquela lágrima
minúscula teimava em rolar-lhe sobre o rosto.
Continuou a
caminhar, ignorando as picadas de dor, enquanto as conchas se
despedaçavam debaixo de si. Andou durante muito tempo, até atingir
o final da praia.
Sentou-se no chão
e encarou o mar, tão profundo e cheio de mistério. Um refúgio que
se agitava violentamente diante de si. Sabia que mais cedo ou mais
tarde teria de voltar a olhar para o passado, mas um pequeno
vislumbre era o suficiente, para se sentir esmagar pela dor.
Voltou a fitar a
imensidão azul-esverdeada que nada parecia questionar e num momento
de loucura gritou, gritou até ficar sem voz na garganta. Deitou-se
sobre a areia húmida e enquanto a água acumulada nos grãos
ensopava a sua roupa desadequada ao frio da época, sorria. Sem saber
porquê, voltara a sentir outra vez.
(Imagem: pixabay.com)
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