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Showing posts from December, 2014

Sim, eu sei...

Sim, eu sei que as coisas mudam e nós crescemos, que temos de seguir em frente, tomar decisões, fazer uma vida. Sim, eu sei que é o suposto, eu sei que é o que todos querem, ou dizem que querem, quando nem tudo corre mal e nos enlouquece. Sim, eu sei que não dá para voltar atrás e a partir de certo limite, o mundo faz com que tudo aumente, em proporções estrondosamente grandes e assustadoras. Sim, eu sei que isso não deveria preocupar-me ou assustar-me e que deveria receber a mudança de braços abertos e com uma felicidade incontrolável pelo meu simples crescimento pessoal. Sim, eu sei que todos passamos por isso e que aparentemente não é motivo de grandes preocupações, pois as coisas parecem sempre mais fáceis quando não é a nossa vez. Sim, eu sei... (Imagem: www.ideiademarketing.com.br)

Não Acredito em Bruxas, mas... (última parte)

Encontrava-me sentada no banco frio e rijo das urgências locais, enquanto procurava no meu telemóvel números antigos que desejava ardentemente não ter apagado. Encontrei por fim. Ligar para a mãe do ex-namorado após tê-lo atropelado com gravidade é algo que nunca ninguém deveria ser obrigada a fazer, mas eu fui... Após muitos gritos do outro lado, consegui dizer-lhe o que realmente tinha acontecido e explicar-lhe os procedimentos que se seguiriam. Após um “vou já para aí” seguiu-se um apito contínuo no telefone e eu guardei-o na mala. As lágrimas ainda não tinham parado de correr e eu sentia que tudo à minha volta estava de pernas para o ar, como se uma espécie de catástrofe tivesse destruído o meu mundo. Aproximei-me pela milionésima vez do balcão e uma mulher mal encarada respondeu-me: - Quando tiver notícias chamamos, não precisa de me interromper a toda a hora. Tive vontade de lhe bater, mas optei por afastar-me novamente. Saí para a rua e fumei vários cigarro

Não Acredito em Bruxas, mas... (2ª parte)

Ainda estava a tentar recompor-me do choque, quando um embate me sacudiu violentamente, obrigando o meu cinto de segurança a espremer-me contra o banco do carro. Receosa, olhei em frente e tinha batido num belíssimo BMW preto e coberto de lama, parado na autoestrada. Uma mulher furiosa saiu de dentro do carro e fitou-me com raiva. - Tem noção do que acabou de fazer? Eu estava incrédula a olhá-la. - A senhora tem o descaramento de parar no meio da autoestrada! O olhar da mulher para mim, fez-me olhar em volta e perceber que já havia saído da via rápida há muito tempo. Como era possível? Não me recordava de todo de ter feito aquele caminho... Voltei a focar-me nos olhos negros e enraivecidos da mulher à minha frente. Devia ter por volta dos 50 anos e o peso um pouco acima do recomendado. Trazia vestido um fato já muito coçado pelo tempo e uns sapatos que precisavam desesperadamente de graxa. Sacudi a cabeça de modo a clarear os pensamentos. Em seguida, saquei de uma d

Não Acredito em Bruxas, mas...

Há sempre um dia em que tudo corre mal, mas para isso, eu tinha o remédio perfeito: os meus óculos de sol. Eram muito, muito velhinhos mas sempre haviam funcionado como uma espécia de meu amuleto da sorte, que nunca falhava. Mesmo em dias de chuva, eu nunca os deixava em casa, ficavam escondidinhos na minha mala e faziam igualmente o seu serviço, bem, pelo menos, era assim que eu pensava. Estávamos em Fevereiro e fazia um frio de rachar. Não havia nada mais doloroso do que destapar-me de manhã e sair de dentro da cama quentinha. Assim, tentava prolongar o momento o mais possível, até que o pânico de estar atrasada, me tirasse o frio do corpo, enquanto eu saltava e corria desesperadamente para debaixo do chuveiro. Aquele, foi um desses dias. Fui me deixando ficar, mais 5 minutos, mais 2 minutos... o da praxe, até que os números vermelhos e brilhantes me indicaram que tinha cerca de 10 minutos para sair de casa. Levantei-me num salto e corri para a casa de banho, onde o chão

Memórias

As recordações vêm lentamente Uma a uma, numa espécie de neblina. Aos poucos, vão se tornando mais fortes, mais vívidas e cheias de indisciplina. Olho para o lado, mas os teus olhos voltam a prender os meus. Neles vejo histórias de piratas e mares bravios que me fazem temer pelo adeus. Mas o seu brilho apaga a tempestade e mostra-me os dias iluminados, Onde o porão se enche com os raios do sol De vários corações apaixonados. (Imagem:  blogavidasao2dias.blogspot.com)

Solidão

A chave roda e nada acontece. O barulho do motor é um leve tossicar. Não ruge, nada. À minha volta, o mundo parece desabar em água, violentamente atirada sobre o carro em que me encontro. As pessoas em meu redor, correm para se abrigar e ninguém, ninguém olha duas vezes para o local onde estou. O céu está escuro e medonho e eu encolho-me no assento. Não me apetece mover. À minha frente, uma minúscula aranha corre desenfreadamente sobre o tablier. Também ela não parece confortável. Estupidamente, a minha cabeça começa a encher-se de ideias idiotas, enquanto a água sobe do lado de fora. "Tenho que sair daqui", digo em voz alta, sem no entanto, mover um único músculo. Ao meu lado, jaz um telefone sem bateria sobre o banco já molhado pelas gotas que se esgueiram pela fresta aberta na janela. Pego-o e fito-o com raiva. Um trovão estremece tudo à minha volta e eu fecho os olhos. Não gosto de trovoada. Encolho-me mais no bando. Fecho os olhos com força. Espero. (Ima

Momentos

Sinto falta dos momentos, daqueles que ficaram para trás sinto falta até daqueles que a vida teima e não traz. Momentos de gargalhadas e tristezas, Risos na beira da fonte Não era um tempo de subtilezas Nada surgia no horizonte. Agora que temos tudo, agora que tudo é fácil, parece que lá falta a fonte a tornar tudo mais dócil. (Imagem Original: www.acorianooriental.pt)