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Não Acredito em Bruxas, mas... (2ª parte)


Ainda estava a tentar recompor-me do choque, quando um embate me sacudiu violentamente, obrigando o meu cinto de segurança a espremer-me contra o banco do carro. Receosa, olhei em frente e tinha batido num belíssimo BMW preto e coberto de lama, parado na autoestrada. Uma mulher furiosa saiu de dentro do carro e fitou-me com raiva.
- Tem noção do que acabou de fazer?
Eu estava incrédula a olhá-la.
- A senhora tem o descaramento de parar no meio da autoestrada!
O olhar da mulher para mim, fez-me olhar em volta e perceber que já havia saído da via rápida há muito tempo. Como era possível? Não me recordava de todo de ter feito aquele caminho...
Voltei a focar-me nos olhos negros e enraivecidos da mulher à minha frente. Devia ter por volta dos 50 anos e o peso um pouco acima do recomendado. Trazia vestido um fato já muito coçado pelo tempo e uns sapatos que precisavam desesperadamente de graxa. Sacudi a cabeça de modo a clarear os pensamentos. Em seguida, saquei de uma declaração amigável, não havia nada a fazer, eu era a culpada e pronto.
Após assinarmos e preenchermos todos os protocolos dirigi-me à empresa com a certeza de que o meu dia estava fadado ao sofrimento. Como pudera esquecer os meus óculos de sol da sorte?
Durante a amanhã, tudo parecia correr mal e a minha dificuldade de concentração valeu-me uma bela descomportura por parte do meu chefe. À hora de almoço, já não aguentava mais...
Às 13 em ponto saí do edifício envidraçado e entrei no meu carro. Recostei-me no banco, sentia uma pressão enorme sobre o peito, como se algo se fosse estragar ou avariar dentro de mim. Respirei fundo e arranquei.
Não havia qualquer motivo lógico para me sentir assim, era apenas um par de óculos, mas uma vozinha no meu interior dizia-me “Não, não era. Era a tua sorte condensada num único objecto.” enquanto outra vozinha me chamava ridícula. Enquanto as duas discutiam acaloradas dentro da minha cabeça, eu seguia a grande velocidade pelas ruas, sem ver realmente as coisas que passavam por mim.
A certa altura, não reparei num semáforo que acabara de mudar de cor e ao passá-lo, alguém se atravessou na frente do meu carro. Não travei a tempo...
O pânico fez com que o meu corpo estremecesse em violentos espasmos, enquanto os meus olhos estavam turvos pelas lágrimas. Após um minuto de silêncio, a rua encheu-se de gritos e eu saí do carro e corri para o corpo imóvel no chão. Ao chegar perto dele, percebi que conhecia aquele rosto ensanguentado.

CONTINUA ...

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