Encontrava-me
sentada no banco frio e rijo das urgências locais, enquanto
procurava no meu telemóvel números antigos que desejava
ardentemente não ter apagado. Encontrei por fim. Ligar para a mãe
do ex-namorado após tê-lo atropelado com gravidade é algo que
nunca ninguém deveria ser obrigada a fazer, mas eu fui...
Após
muitos gritos do outro lado, consegui dizer-lhe o que realmente tinha
acontecido e explicar-lhe os procedimentos que se seguiriam. Após um
“vou já para aí” seguiu-se um apito contínuo no telefone e eu
guardei-o na mala. As lágrimas ainda não tinham parado de correr e
eu sentia que tudo à minha volta estava de pernas para o ar, como se
uma espécie de catástrofe tivesse destruído o meu mundo.
Aproximei-me
pela milionésima vez do balcão e uma mulher mal encarada
respondeu-me:
-
Quando tiver notícias chamamos, não precisa de me interromper a
toda a hora.
Tive
vontade de lhe bater, mas optei por afastar-me novamente.
Saí
para a rua e fumei vários cigarros uns atrás dos outros. Estava
tudo errado, mas não podia ser só por causa de uns óculos fora de
moda, podia? Dirigi-me ao meu carro e sentei-me no interior, estava
um frio de rachar, mas eu precisava continuar a fumar, ou acabaria
por enlouquecer.
Ao
fim de algum tempo de dormência, vejo passar os pais de Diogo.
-
Devia sair do carro e ir cumprimentá-los. - disse a mim mesma, sem,
no entanto, mover um músculo.
Sem
saber porquê, olhei para o chão e vi que alguma coisa estava caída
junto ao banco ao meu lado. Sem dar muita importância estiquei o
braço e apanhei o objecto escuro. Incrédula, percebi o que estava
na minha mão.
Os
meus óculos da sorte tinham afinal estado ali o tempo todo. Sem
saber porquê, agarrei neles e voltei a entrar dentro do hospital.
Dirigi-me ao balcão e a antipática mulher tinha sido substituída
por uma jovem muito simpática, que me deu todas as indicações que
deveria. A cirurgia tinha corrido bem, ele iria ficar bem. Sorri.
Voltei
a focar os óculos na minha mão e senti-me ridícula, eles não me
davam sorte ou azar, a minha superstição é que dava.
-
A força do pensamento.... - murmurei, incrédula.
Dirigi-me
então ao quarto que ela me indicara e no qual poderia visitar Diogo.
No caminho, deixei o estúpido objecto que venerava há anos numa
qualquer lata de lixo. Ri. Estava livre.
FIM
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