Há
sempre um dia em que tudo corre mal, mas para isso, eu tinha o
remédio perfeito: os meus óculos de sol. Eram muito, muito
velhinhos mas sempre haviam funcionado como uma espécia de meu
amuleto da sorte, que nunca falhava. Mesmo em dias de chuva, eu nunca
os deixava em casa, ficavam escondidinhos na minha mala e faziam
igualmente o seu serviço, bem, pelo menos, era assim que eu pensava.
Estávamos
em Fevereiro e fazia um frio de rachar. Não havia nada mais doloroso
do que destapar-me de manhã e sair de dentro da cama quentinha.
Assim, tentava prolongar o momento o mais possível, até que o
pânico de estar atrasada, me tirasse o frio do corpo, enquanto eu
saltava e corria desesperadamente para debaixo do chuveiro.
Aquele,
foi um desses dias. Fui me deixando ficar, mais 5 minutos, mais 2
minutos... o da praxe, até que os números vermelhos e brilhantes me
indicaram que tinha cerca de 10 minutos para sair de casa.
Levantei-me num salto e corri para a casa de banho, onde o chão
molhado, me fez escorregar e cair desamparadamente no chão.
“Vai
ser um dia daqueles...”, pensei.
Fiquei
um momento a respirar, mas não seriam meia dúzia de nódoas negras
que me iriam impedir de chegar a horas ao meu emprego. Depois de
correr uma verdadeira maratona, durante a qual fui capaz de me
vestir, calçar e maquilhar, estava a trancar a porta da rua e a
dirigir-me ao carro, estacionado na entrada.
Respirei
fundo e liguei o motor, no entanto, quando ia iniciar a manobra, vi
pelo espelho retrovisor que havia outro carro estacionado atrás de
mim. A raiva apoderou-se da minha mão, que por sua vez tomou posse
da buzina no centro do volante. Após 10 minutos de buzinadelas
estava finalmente a caminho do emprego.
Começar
uma manhã desta forma era algo que arrasava qualquer um, por isso,
coloquei uma música suave e fiz exercícios respiratórios, na vã
tentativa de fazer o meu coração voltar a bater normalmente.
No
primeiro cruzamento, o sinal vermelho fez-me parar durante mais
alguns minutos, nos quais eu aproveitei para rever a minha
maquilhagem feita à pressa. Ao arrancar, a luz do sol invadiu o
carro e cegou-me por uns instantes. Não podia fazer nada ali, mas
assim que entrei na autoestrada, deitei a mão à mala para pegar nos
meus óculos de sol.
Após
revolver desesperadamente o recipiente, sem nada encontrar, tirei os
olhos da estrada e virei o conteúdo da mala sobre o banco do carro.
Um choque eléctrico percorreu o meu corpo, ao perceber que os óculos
não estavam ali. Tinha os deixado em casa. Naquele instante percebi
que o meu dia estarai absolutamente condenado ao fracasso.
CONTINUA...
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