Este é um quadro de contrastes entre o passado e o presente, conseguindo como resultado final uma composição harmoniosa e agradável.
Comecemos então por analisar o ambiente envolvente, uma divisão com aspecto mal tratado, grafittis nas paredes, um qualquer edifício abandonado de uma grande cidade. Em frente, um lance de escadas conduz-nos a uma janela luminosa, bem tratada, limpa, uma abertura para o mundo de luz lá fora, que em nada se assemelha ao resto da divisão.
Esta janela lembra-me uma janela antiga, de grande casarão, mas também a figura que está na escada me transporta, de alguma forma, para algumas décadas atrás. Estaria o nosso artista, de forma metafórica a enaltecer o passado, colocando-o um pouco acima do presente degradado?
Ao fundo da escada, sentada no chão, contra a parede graffitada, uma rapariga com aspecto mais moderno e de pés descalços, parece ouvir a melodia que a mulher sobre a escada dança.
No meio das duas, como se juntasse os dois mundos, uma grafonola está pousada no chão. Talvez seja ela que emane a melodia que parece unir estas duas mulheres.
Existe alguma semelhança entre elas, talvez sejam parentes, talvez a imagem iluminada seja uma recordação da rapariga sentada no chão. Recorda alguém que ama, recorda os seus momentos áureos, ou então, deseja que eles cheguem por fim, imaginando-se a dançar num palco enorme e iluminado pelos sorrisos de quem a observa.
Ou, no final de contas, talvez a verdadeira protagonista desta obra seja, na verdade, a música, simbolizada pela presença da grafonola. A música, capaz de unir dois opostos, capaz de interligar o passado e o presente.
Ao lado desta, encontramos ainda outro elemento, aparentemente aleatório, mas com uma posição demasiado destacada para o ser: um vaso. Qual o seu papel nesta pintura? É possível que o autor estivesse a tentar transmitir uma mensagem... Talvez nos queira dizer que o papel que a música desempenha, poderá ser desempenhado pela arte no geral.
Comments
Post a Comment