As mãos suadas passeiam-se pelos veios corridos e escuros da madeira envernizada. A sua mente imagina todo um mundo sobre o tampo do seu suplício, onde mil pequenos homens se movem freneticamente, fervilhando de vida.
Um olhar ao relógio diz-lhe que ainda faltam várias horas para a sua vida começar. Por enquanto, só a espera no purgatório, o som desagradável dos teclados, os dedos que neles batem, tentam fazer algo.
Fitou o seu. Porque não conseguia fazer o mesmo? Porque sentia esta ânsia, este tormento dentro de si? Voltou a olhar os homenzinhos na mesa. Também eles lutavam para sobreviever às câmaras de gás que a civilização usava para matar os sonhos.
Virou-se de costas para o tampo agitado. Lá fora, o sol brilhava.
- Já terminaste?
A voz dele tornava-se mais insuportável a cada dia que passava. Calmamente, rodou a cadeira para ficar de frente para o chefe. Retirou a arma da gaveta e sem dizer uma palavra, disparou. O homem caiu no chão, formando um poça de sangue. Gritos e correrias, ambulâncias a chegar.
- Então? Já está?
Olhou novamente o chefe, sobressaltado.
- Não.
- Então despacha-te.
O homem saiu e ele voltou a focar-se no tampo da mesa. Também os homenzinhos tinham desaparecido. Tornou ao computador.
(Imagem: http://www.crieblog.com.br/como-gerar-conteudo-para-o-seu-blog)
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