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A Rainha do Nada (2ª parte)

Patrícia andava de mau humor, mais ainda do que era habitual. Nada estava bem, nunca estava contente e embirrava com tudo e com todos. Os meus pais começaram a reparar que algo de errado estava a acontecer e passaram a pressionar-me, porém, a minha resposta foi sempre a mesma:
- Não sei.
Chegámos finalmente à véspera do baile e não me apetecia estragar o meu bom humor, saber que ia acompanhada pelo Pedro já me deixava suficientemente nervosa, no entanto... ela era minha irmã.
Respirei fundo e dirigi-me ao seu quarto. Entrei sem bater à porta.
- O que é que queres? - resmungou, sem nunca se virar na minha direcção. Estava em frente ao espelho a maquilhar-se.
- Vais sair?
- Vou. Porquê? - perguntou, olhando finalmente para mim.
- Eu queria falar contigo.
O seu olhar gélido trespassou-me e eu engoli em seco. Em seguida, sentou-se ao meu lado e disse bruscamente:
- Desembucha.
- Eu estou preocupada contigo, - disse, ainda hesitante. - De há uns tempos para cá, não pareces tu. Andas agressiva e …
Ela não me escutava, tinha voltado o rosto para a janela e fixava um ponto vazio, algures do outro lado do vidro. Quando me calei, voltou a olhar para mim.
- E queres saber porquê? Porque estou preocupada contigo. - O seu tom de voz era agora diferente, porém, impossível de identificar. - Acho que não tens noção daquilo em que te estás a meter.
Senti os meus olhos abrirem-se amplamente com a surpresa.
- Do que é que estás a falar?
- Do baile. Do pedro.
Franzi o sobrolho. Onde é que ela queria chegar?
- Se vais inventar uma das tuas histórias...
- Eu não vou inventar nada. Tu fazes aquilo que entenderes, mas acho que vais acabar por meter a pata na poça.
Ao terminar a sua declaração, ergueu-se e voltou à maquilhagem. O meu coração apertou-se. Eu fazia sempre asneira, ela devia ter razão...
- O que achas que devo fazer então?
Notei um estranho brilho no seu olhar.
- A verdade é esta: tu não és lá muito boa socialmente, não és popular e não sabes manter uma conversa.
- Obrigadinha.... - murmurei sarcasticamente.
Patrícia ergueu a mão, pedindo o meu silêncio.
- E! Das poucas vezes que saiste com rapazes... não correu lá muito bem, pois não?
Fitei-a. Nesse ponto ela tinha total razão, mas...
- Então o que sugeres que eu faça?
- Que sejas eu, só por uma noite.
- Sabes que eu não consigo fazer isso... - O que é que lhe estava a passar pela cabeça?
- Pois sei. E foi por isso mesmo que pensei. Quem melhor do que eu mesma para fazer esse papel?
Franzi o sobrolho. Não gostava mesmo nada daquela ideia. 

CONTINUA...

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