Patrícia
andava de mau humor, mais ainda do que era habitual. Nada estava bem,
nunca estava contente e embirrava com tudo e com todos. Os meus pais
começaram a reparar que algo de errado estava a acontecer e passaram
a pressionar-me, porém, a minha resposta foi sempre a mesma:
-
Não sei.
Chegámos
finalmente à véspera do baile e não me apetecia estragar o meu bom
humor, saber que ia acompanhada pelo Pedro já me deixava
suficientemente nervosa, no entanto... ela era minha irmã.
Respirei
fundo e dirigi-me ao seu quarto. Entrei sem bater à porta.
-
O que é que queres? - resmungou, sem nunca se virar na minha
direcção. Estava em frente ao espelho a maquilhar-se.
-
Vais sair?
-
Vou. Porquê? - perguntou, olhando finalmente para mim.
-
Eu queria falar contigo.
O
seu olhar gélido trespassou-me e eu engoli em seco. Em seguida,
sentou-se ao meu lado e disse bruscamente:
-
Desembucha.
-
Eu estou preocupada contigo, - disse, ainda hesitante. - De há uns
tempos para cá, não pareces tu. Andas agressiva e …
Ela
não me escutava, tinha voltado o rosto para a janela e fixava um
ponto vazio, algures do outro lado do vidro. Quando me calei, voltou
a olhar para mim.
-
E queres saber porquê? Porque estou preocupada contigo. - O seu tom de voz
era agora diferente, porém, impossível de identificar. - Acho que
não tens noção daquilo em que te estás a meter.
Senti
os meus olhos abrirem-se amplamente com a surpresa.
-
Do que é que estás a falar?
-
Do baile. Do pedro.
Franzi
o sobrolho. Onde é que ela queria chegar?
-
Se vais inventar uma das tuas histórias...
-
Eu não vou inventar nada. Tu fazes aquilo que entenderes, mas acho
que vais acabar por meter a pata na poça.
Ao
terminar a sua declaração, ergueu-se e voltou à maquilhagem. O meu
coração apertou-se. Eu fazia sempre asneira, ela devia ter razão...
-
O que achas que devo fazer então?
Notei
um estranho brilho no seu olhar.
-
A verdade é esta: tu não és lá muito boa socialmente, não és
popular e não sabes manter uma conversa.
-
Obrigadinha.... - murmurei sarcasticamente.
Patrícia
ergueu a mão, pedindo o meu silêncio.
-
E! Das poucas vezes que saiste com rapazes... não correu lá muito
bem, pois não?
Fitei-a.
Nesse ponto ela tinha total razão, mas...
-
Então o que sugeres que eu faça?
-
Que sejas eu, só por
uma noite.
-
Sabes que eu não consigo fazer isso... - O que é que lhe estava a
passar pela cabeça?
-
Pois sei. E foi por isso mesmo que pensei. Quem melhor do que eu
mesma para fazer esse papel?
Franzi
o sobrolho. Não gostava mesmo nada daquela ideia.
CONTINUA...
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