Quando
finalmente chegou a noite tão esperada, Patrícia tinha conseguido,
não sei como, convencer-me a trocar de papéis. Era algo que
fazíamos com alguma regularidade, principalmente em teste e exames,
mas agora era diferente. Ela ia sair com o Pedro e eu tinha medo que
isso corresse mal. No entanto, todos os seus argumentos sobre a minha
incapacidade de relacionamento com o sexo oposto eram reais e eu não
queria estragar tudo, mais uma vez...
Vestimos
a roupa uma da outra, penteámo-nos mutuamente e ela colocou-me a sua
maquilhagem garrida, enquanto no seu próprio rosto, tentou uma
sombra clara e uma pintura mais suave. Ao fim de hora e meia,
estávamos prontas.
Assim
que Pedro dobrou a esquina da rua, Patrícia saiu de casa e correu ao
seu encontro. Da janela da sala fiquei a observar a sua interacção,
mas estava demasiado longe para ter uma clara noção do que se
passava para lá do vidro. Não demorou muito a que tocassem à
campainha. Dirigi-me maquinalmente ao corredor, onde a minha mãe já
recebera Ivo, o par de Patrícia.
-
Ela ….
Não
deixei que ela acabasse de falar.
-
Estou aqui. - Um olhar reprovador caiu de imediato sobre mim. -
Vamos?
Ivo
sorriu e saímos de braços dados. Lancei um último vislumbre ao
rosto da minha mãe que me fitava confusa. Em seguida encolheu os
ombros e fechou a porta. Não era a primeira vez que fazíamos algo
do género.
Ao
chegar à escola, avistei rapidamente a minha irmã a conversar com
Pedro, junto a um pilar. Arrependi-me imediatamente do que tinha
feito. Era óbvio que ele iria gostar mais dela, todos gostavam...
Fitei Ivo ao meu lado, se ele soubesse quem eu era de verdade, com
certeza também não estaria ali comigo. Senti uma enorme vontade de
chorar. Como podia ter sido tão estúpida?
Num
impulso, deixei Ivo plantado no meio do pátio e dirigi-me aos dois.
Sem ser capaz de dizer porquê, uma
confiança súbita invadiu-me abruptamente e disse, sem grandes
apresentações:
-
Patrícia. Precisamos falar.
Ela
lançou-me um olhar fulminante.
-
Patrícia? - Pedro parecia extremamente confuso.
-
Precisamos falar. - insisti. Se ela não levantasse muitas ondas,
podiamos trocar de roupa na casa de banho e ninguém daria por nada.
Poupar-nos-ia uma grande vergonha.
-
Pára de brincadeiras. - disse ela, com um sorriso nervoso e um olhar
subtil a Pedro. - Volto já.
Pegou
no meu braço e empurrou-me na direcção dos balneários da educação
física.
-
O que é que estás a fazer?!
-
Isto é um erro.
-
Queres ou não queres que ele goste de ti?
-
Quero. - afirmei. Senti a minha voz vacilar, mas sabia que estava a
fazer o que era certo. - Quero que ele goste de mim, e assim,
não é a mim que ele irá conhecer.
O
olhar de Patrícia endureceu, ela sabia reconhecer como ninguém que
tinha perdido. Então, antes que eu pudesse raciocinar, ela
empurrou-me para dentro do balneário e trancou a porta.
-
Patrícia! Estás parva?
-
Desculpa, não me deixaste outra alternativa. - ouvi-a responder do
lado de fora da porta e em seguida os seus passos afastaram-se
apressadamente.
-
PATRÍCIA!!
CONTINUA...
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