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Showing posts from February, 2014

Às Vezes

Às vezes, uma palavra cai bem, Um sorriso, Um abraço. Um "estou aqui", Um obrigado. Às vezes, uma mão é o suficiente, Suporta-nos, Apoia-nos, E não nos deixa cair. Mas às vezes, A saudade é tudo o que temos, Corrói, Destrói, Faz-nos pensar no que já perdemos.

Armas

O mundo parece estar todo voltado ao contrário. As armas voltam a ser a voz da opressão, o sofrimento a única alternativa. De um lado o povo grita, do outro, as armas respondem, cuspindo o seu fogo mortal. Sinto-me como um alucinado, quando já não tem a certeza se o mundo é o que mostra ser. Que pensarão as pessoas que disparam contra os que sofrem? O que verão aquelas que atacam uma farda, sem olhar no rosto do ser humano que a veste? A esperança que tudo passe ao nascer dos próximos raios de sol é agora vã, cada vez mais longínqua e os inocentes desesperam. Até quando? Quantos mais precisam morrer para admitirmos de uma vez por todas os nossos erros? Onde está o cravo e a liberdade?

Basta!

A mão que se ergue por entre a multidão dá voz ao sofrimento silenciado pelo que todos julgam ser a democracia. Os fortes pisam os fracos, os ricos enriquecem ainda mais com o trabalho dos pobres, que vivem na miséria. Os sonhos são mortos à nascença e já nem o esforço contínuo é sinónimo de sucesso. A sociedade mascara-se com cores brilhantes e nós vemos o mundo através da lente de uma câmara de filmar. Um grito surdo ecoa no meio da multidão, um basta estridente, abafado pela sirene da polícia. Não aconteceu nada. A população cinzenta e abatida segue em frente, apática, como verdadeiros mortos-vivos, à procura do descanso final. Mas este não irá surgir, não enquanto mais vozes não se erguerem acima das sirenes e gritarem bem alto: Basta!

O Tremor da Alma

O pequeno nervosismo começa assim, o nosso coração grita, os nossos pulmões anseiam por mais ar, mas só depois, muito depois, percebemos o verdadeiro motivo do acontecimento. O nosso corpo sabe-o primeiro que nós, porque ele reconhece essa luminosidade diferente que os nossos olhos captam, esse encanto da novidade e o medo do que está para além do feixe de luz, escondido na escuridão. E não adianta, repetirmos vezes e vezes sem conta, que não será nada demais, que tudo será exactamente como esperamos e que estamos totalmente preparados. O nosso coração vai continuar a bater com força, os nossos pulmões vão continuar a lutar por mais oxigénio e as borboletas do estômago vão continuar a esvoaçar ininterruptamente até que a luz chegue a todos os cantos da nossa alma. (Imagem de Nancy Drew)

O Segredo de Martinica

Esta é uma história cheia de humor, peripécias, segredos e reviravoltas inesperadas.  Fernando L. Silva consegue surpreender-nos com a sua análise de banais situações do quotidiano pelo toque especial que lhes dá. Um contrabandista português, um padrinho da máfia siciliana, um crime por resolver, todos envoltos num cenário de Hollywood à portuguesa, temperado com gargalhadas e brincadeiras. Somos presenteados com uma caricatura de um GNR dos anos 70, na sua aldeia do interior, onde nada acontece, e quando acontece... bem, o que fazer?  Acompanhamos uma investigação, passo a passo, onde o autor nos faz sentir perdidos e nos obriga a ligar as peças do puzzle por nós mesmos, até que o nosso protagonista, esclareça as restantes personagens. Somos ainda confrontados com contrastes que não imaginamos. Assistimos ao envelhecimento e decadência de um poderoso padrinho da máfia e percebemos que o ser mais angelical, pode na verdade, ser o mais perverso. Sendo que a nossa história

O Som de Uma Gargalhada

A gargalhada sonora invade o delicado equilíbrio do ambiente contido. Os olhares reprovadores vêm de todas as direcções, caindo como punhais sobre ela.  Porque ris? Do que ris?  Quem não sabe voar, não entende a sua necessidade. É assim com a gargalhada, que cacareja o mais alto que pode, tentando atingir todos em seu redor. Mas  bocas abrem-se e as línguas sibilam à passagem do riso. Só a loucura não se retrai e se junta ao carrossel do absurdo. O ambiente escurece então, o espaço diminui. Fujam. São os passos que se aproximam, são as mãos que vedam.  A gargalhada grita alto, por socorro, querem matá-la, aniquilá-la. O espaço volta a diminuir ainda mais e o céu escurece como breu, os olhos e as bocas afastam-se, indiferentes. Só a lágrima se atreve, só ela observa, curiosa. - Que fazes tu? Queres afastar-me? - Não. - A gargalhada continua o seu som, cada vez mais forte. - Quero que te juntes a mim. Mas os passos afastam-nas e a lágrima foge pela encosta.  Os passos contin

Coragem

Essa força que é engolir o medo e seguir em frente, que nos permite caminhar quando as nossas pernas não aguentam mais, que nos permite sorrir com um coração despedaçado. É uma explosão que se dá em nós, de onde renascemos das cinzas dos nossos medos, em cores fortes e vibrantes, que ofuscam os olhares mais cruéis e os afastam de nós. É essa força que no fim de cada confronto, nos dá ainda a capacidade de recolher os destroços e de com eles construir uma nova estrada, para seguir o nosso caminho. É essa força que é representada neste  Endless Courage , de Fawn Mcneill e que eu não poderia deixar de partilhar convosco.

Eucalyptus Tree

Deixei-me apaixonar rapidamente por este Eucalyptus Tree de Karen Winters, bem como, por outras obras da artista que envolvem paisagens deslumbrantes e serenas. Com linhas suaves e cores discretas, os seus quadros atraem não só pelos motivos representados, mas também, pela sua simplicidade e doçura digna de um ambiente de contos de fada. O toque de luz e sombra ajuda a que sejamos transportados para os seus cenários de paz e harmonia, onde não encontramos figuras humanas. Uma artista que vale a pena acompanhar.

Inverno

A chuva bate na janela, escorrendo lentamente pelo vidro embaciado. Dentro das paredes de pedra, a chama de uma lareira aquece o ambiente. As labaredas tremeluzentes enchem as paredes da sala de tons alaranjados, enquantro o leve crepitar da lenha embala os sonhos do cão gordo e velho, deitado sobre o tapete. O doce perfume do pão acabado de fazer, penetra suavemente nas narinas, enquanto a manteiga derrete lentamente, em contacto com o seu calor. O ar é invadido pelo aroma a ervas do campo, do chá acabado de fazer. A língua queima e o corpo aquece, enquanto o suave líquido desce pela garganta. Lá fora, o vento uiva, enquanto o céu cinzento chora pela partida do sol.

Lançamento do Livro "Pensamentos" de Mafalda Ling

Tive o prazer de estar presente, no passado dia 15 de Fevereiro, no lançamento do livro de Mafalda Ling, Pensamentos . Fui por mera curiosidade, o lançamento decorreu no novo espaço da C hiado Editora , a livraria Desassossego e eu decidi conhecer o espaço, ver o ambiente e assim, aproveitei para ver como são os lançamentos da editora. Acabei rendida à simpatia de Mafalda. O evento em si, demorou um pouco a começar, mas a minha persistência foi compensada pela simpatia e boa disposição de Mafalda, que afinal é Natália, e que recebeu os seus convidados com muita simplicidade e um grande sorriso nos lábios. Ainda não tive a oportunidade de ler estes seus Pensamentos , mas as primeiras páginas despertaram, sem dúvida, a minha curiosidade. Ficam aqui, desde já, os meus votos de felicidade e muito sucesso para Mafalda Ling.

A Criança que Chora Pelo Mundo

Quando as crianças param de sorrir, então uma novíssima e cruel tempestade surge no horizonte. o manto negro toma conta de tudo e não há mais por onde escapar. Nesta obra de autor desconhecido que encontrei no site da National Geographic , uma criança chora pelo nosso mundo e pelo futuro que este lhe proporcionará. A poluição tira-lhe o doce respirar de um novo dia, a revolta e a violência, levam-lhe a alegria de um passeio, arrancando abruptamente a sua inocência.  E os poderosos, esses protegem-se no interior dos seus carros blindados, por detrás dos seus muros de pedra, cobertos com arame farpado. Mas a criança chora, para ela não há onde se esconder... O nosso artista deixou uma mensagem a acompanhar a sua obra, que dispensa mais palavras: «Se a nossa geração é o futuro do nosso planeta, então os nossos líderes devem ser o nosso modelo. Eles têm de nos contar as suas preocupações, guiarem-nos, tomarem a iniciativa pela nossa causa, ao mesmo tempo que devem permanece

A Insegurança das Horas

A insegurança das horas que passam, lentamente ou em grande velocidade, sem que no fim nos apresentem o que achamos que deveriam.  As tarefas que se acumulam nas mãos cansadas, na mente incapaz de se forçar a trabalhar. Olho pela janela e tudo parece normal lá fora, o café do costume, com o barulho dos clientes do costume, as presenças e ausências do costume. Os cães que passeiam pela estrada, ladram e brincam como de costume... Só aqui, cá dentro, algo está mudado. É uma estranha diferença, subtil, quase irreconhecível, mas capaz de abalar todas as estruturas.

Guerreira

Algo de novo se forma em mim A guerreira voltou A lutadora sem descanso que, Com o arco vence as suas batalhas internas. Flechas que assobiam nos meus ouvidos, chamando a força que se encondeu durante anos, E esta espreita, acossada, Por entre as frestas do tempo. O sol brilhante fá-la soltar-se E saltar por entre o arco-íris. Uma nova guerra me espera, Sem canhões, sem inimigos Onde terei de lutar até ao fim, Vencendo e perecendo todos os dias.

The Road

O meu mais recente trabalho em aguarela, feito a partir de uma fotografia. Escolhi esta imagem, porque a estrada a desaparecer em direcção ao infinito é absolutamente inspiradora, fazendo-me pensar na própria vida e na estrada que percorremos para alcançar os nosso sonhos.  Espero que gostem. 

Marcello Barenghi

Já há algum tempo que venho acompanhando o trabalho deste ilustrador, maravilhada com o que sai de seus dedos. E sim, pode acreditar, as imagens acima são desenhos... A perfeição imposta a cada um deles é estonteante. O primeiro desenho que vi de Barenghi foi uma moeda de dois euros e a questão surgiu: "Porquê fotografar uma moeda?" E então, olhei melhor... Marcello Barenghi nasceu em Milão em 1969 e ama a arte desde a sua infância. Com apenas 9 anos e apaixonado pela obra de Da Vinci, tentou reproduzir o seu famoso quadro Mona Lisa . Tendo sofrido a influencia de vários artistas, Marcello Barenghi foi descobrindo,a os poucos, os seus materiais de eleição e o seu próprio estilo. No seu site, www.marcellobarenghi.com, podemos ficar a conhecer melhor o seu percurso, as suas técnicas de trabalho e o material com que trabalha. Lá, encontramos ilustrações, reproduções de pinturas a óleo, vídeos e fotos do seu processo criativo. E claro, podemos apaixonar-nos pela imag

Dom Casmurro

Desta vez, escolhi para a minha leitura diária, um dos grandes clássicos da literatura brasileira. Ainda não tinha tido a oportunidade de ler nada de Machado de Assis e sobre este seu Dom Casmurro , sabia apenas o nome da protagonista feminina, pelo que foi uma leitura reveladora e cheia de surpresas. E agora, vejo-me aqui, diante do ecran, a tentar falar de um autor sobre o qual já tudo foi dito. Esta obra fala-nos essencialmente sobre o amor, a descoberta e a complexidade dos sentimentos. É um retrato fiel de uma sociedade puritana, cujos valores religiosos se erguem sobre os desejos e a vontade individual e onde o indivíduo tem de aprender a combatê-los. Em Dom Casmurro , dois amigos de infância crescem lado a lado, descobrindo-se a si e ao mundo que os rodeia, enquanto se deixam entrelaçar pela teia dos sentimentos, que vão demonstrando um pelo outro. Uma promessa antiga abala todo o seu mundo cor-de-rosa, mas a ingenuidade aparente, pode ser na verdade, o contentor de a

Joy Vibrations

O nosso corpo é uma extensão do universo e o universo é uma extensão de nós. É assim que interpreto este quadro que coloca uma figura feminina no centro da espiral da vida, iluminada. À medida que se afasta do centro, quem sabe de si mesma, torna-se cada vez mais difusa e ondulada, o seu vestido vai lentamente transformando-se em ondulação marítima e o seu cabelo assemelha-se aos raios de sol. Vejo esta tela como uma ilustração de como o Ser Humano se funde com a natureza e de como dependemos dela. Poderá ser encarado como um alerta. Estamos de tal forma interligados, que nos confundimos com ela, desaparecemos com ela... Era assim que eu o interpretaria, até ver que o seu título é Joy Vibrations . Um segundo olhar, levou-me então a crer que a figura central dança por entre os raios de sol e as gotas salgadas do mar. Um pensamento macabro invadiu a minha mente de imediato: até quando, poderá a humanidade dançar?

Um Susto de Morte (continuação)

 Aleguei uma indisposição de última hora, para sair imediatamente daquele inferno. Quando cheguei a casa, sentei-me no enorme sofá castanho, pensando numa forma de me vingar. Ela não voltaria a humilhar ninguém. Atacá-la directamente não me faria grande bem, perderia o emprego, quem sabe até a liberdade, sabe-se lá que tipo de processo judicial aquela louca conseguiria construir contra mim. Senti um arrepio. Não. Não podia acabar com a minha vida por causa dela. Tinha de pensar bem. Um trovão do lado de fora da janela fez a persiana bater com tanta força que saltei no sofá onde estava sentada. Com o coração a bater desenfreadamente, dirigi-me à janela e olhei lá para fora. Um clarão invadiu os céus, iluminando o negro da noite. Ri-me de mim mesma, era só a trovoada... Foi então que uma ideia me passou pela cabeça, já sabia como obter a minha vingança: ia provocar-lhe um susto de morte! No dia seguinte, procurei na internet dezenas de histórias sobre partidas e brincadeira

Um susto de Morte

Aqui fica a primeira parte do meu novo conto. :) UM SUSTO DE MORTE  O dia começou bem cedo, iniciado pelo som metálico e desagradável do meu velho despertador azul turquesa. Levantei-me ao primeiro toque, precisava de tempo suficiente para tomar o meu banho demorado, numa banheira cheia de espuma e sais perfumados e um pequeno-almoço reforçado, com ovos e bacon e poder ainda reler a apresentação daquele dia. Aquela seria a grande oportunidade da minha carreira e eu sabia que se a perdesse muito dificilmente teria outra. Sentia o meu corpo a contorcer-se por dentro em pequenos espasmos de expectativa e ansiedade, mas tentava estar controlada. Espantosamente, estava a conseguir. Sabia que durante a apresentação, estaria presente alguém vindo de uma outra empresa, com a qual a minha estava a tentar estabelecer um protocolo de cooperação. Se conseguisse impressioná-la... Mas o melhor era, para já, não sonhar muito alto. No momento, bastava-me que o meu chefe aderisse à ideia, o

Retrato

Trabalhei durante duas horas neste retrato. Deixei-o de lado novamente. Esperei mais de uma semana para voltar a pegar nela. Foi quando realmente o vi. Decidi não lhe mexer mais.  Descobri que deixar passar o tempo, ajuda-nos a apreciar de forma diferente o nosso próprio trabalho. No momento da criação, ele nunca parece completo. O que me dizem vocês?