A gargalhada sonora invade o delicado equilíbrio do ambiente contido. Os olhares reprovadores vêm de todas as direcções, caindo como punhais sobre ela. Porque ris? Do que ris?
Quem não sabe voar, não entende a sua necessidade. É assim com a gargalhada, que cacareja o mais alto que pode, tentando atingir todos em seu redor. Mas bocas abrem-se e as línguas sibilam à passagem do riso. Só a loucura não se retrai e se junta ao carrossel do absurdo.
O ambiente escurece então, o espaço diminui. Fujam. São os passos que se aproximam, são as mãos que vedam. A gargalhada grita alto, por socorro, querem matá-la, aniquilá-la.
O espaço volta a diminuir ainda mais e o céu escurece como breu, os olhos e as bocas afastam-se, indiferentes. Só a lágrima se atreve, só ela observa, curiosa.
- Que fazes tu? Queres afastar-me?
- Não. - A gargalhada continua o seu som, cada vez mais forte. - Quero que te juntes a mim.
Mas os passos afastam-nas e a lágrima foge pela encosta. Os passos continuam, travam os lábios que se afastam, mas a gargalhada, essa, jamais parará de soar.
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